Dançar enrrabado

E tem também o causo do Rabo.
Pois bem, eis que em 1930, época de guerra na Europa, a sociedade alemã da Lapa procurava esquecer as más notícias proveninetes dos campos de batalha, fazendo piqueniques e bailes nos clubes sociais da cidade. Se não era baile de gala, pelo menos a burguesia tentava desfilar pelos salões as fatiotas que cheiravam mofo ou goma, contrastando com as roupas mais simples dos moços da cidade, entre eles o nosso Edagard. As dele, sempre limpas e bem passadas, pois a Vó Rosa assim exigia, mas que ainda assim , davam o tom da simplicidade do nosso ilustre.
Como bons rapazes, ele , amigos e irmãos não perdiam tempo, falava-se em baile no Passa Dois, eis que o grupo para lá se dirigia. Outra vez era no Imbuial, estavam lá na hora certa. Domingueiras eram as preferidas, onde o mancebo não tardava em cortejar as moçoilas casadoiras. Pé de valsa como ele ainda não nasceu, isto ainda hoje pode ser comprovado.
Porém, eis que o Baile ia ser no Tijuco Preto, comunidade de "Russos Brancos" e por demais conservadores. Nem bem o baile começou eis a trupe aportando com o carroção na frente do Salão. Dele sairam num pulo, acostumados estavam ao carro, não se importando aos olhares severos que cairam sobre eles. Logo o burburinho das moças levou os rapazes da comunidade a ficarem exaltados. Porém , nem bem a música da gaita de ponto e dos metais começou, tudo foi esquecido.
Polkas, marchas e músicas da colônia abrandavam a dureza da vida daqueles trabalhadores ali encravados, longe de parentes, amigos e da longinqüa terra natal. Edgard porém alheio a estes pensamentos saudosos e melancólicos só tinha vistas para uma bela e formosa moça que avistara por entre as mesas e pais de família. Olhos claros, sardas e um riso belo e meigo. Após algumas cervejas para tomar coragem eis que ambos estavam a bater canelas na pista de dança. Pé de valsa como esse Edgard não existia.
Música vem, música vai, ali o par ficava entre os convivas dançando. Ainda que pequena, provocando dores nas costas para rodopiar no salão, o moço até que se agradara da moça, falando de menos mas cujos olhares diziam tudo. As mão de ambos a esta altura já se apertavam.
Porém eis que no intervalo da música o par foi separado pelo pai, sendo a moça convocada a voltar á mesa com a família. Edgard nào entendeu tal atitude, indo tirar satisfação com o velho homem. Um tanto desconcertado perguntou:
_ Com perdão meu Senhor, poderia saber o motivo por não poder dançar com sua formosa filha?
_Olha aqui meu rapaz, dançar tudo bem, mas não pode dançar enrrabado. Respondeu o pai.
Corando de forma abrupta, o rapaz escondeu as mãos nos bolsos da calça , realçando ainda mais as meias que vestia, dado que a calça era por demais curta, por nós conhecida como calça de caçar "rã". Naquelae sentimento retrucou desculpando-se.
_Perdão meu Senhor, por tudo neste mundo juro que nada aconteceu na dança, juro que me comportei como se deve comportar um bom sujeito, nào queria que me julgasse pelo que não fiz. Comportei-me e respeitei a moça. Juro por minha mãe que não fiz por mal se assim o Senhor entendeu.
Assim acabou o baile para o mancebo e para a turma que estava com ele, onde tiveram que ir embora, deixando para trás uma sensação de algo tão belo e tão tristemente desfechado. Não entendera a acusação e lamentara a perda de tão agradável companhia.
Dias depois, quando da visita de um parente da colônia do Tijuco, soube de uma informação que lhe aliviou o remorso e devolveu a alegria abalada. O termo " enrrabado" era empregado quando alguém dançava mais de uma música com alguém, nào dando vez aos outros rapazes da comunidade. Aliás, emrrabar uma moça nada mais era do que privar da dança outros pretendentes. Deu risada disso, e até agradeceu pela notícia.
_ Gostei sim, até dancei enrrabado, mas a dor na coluna não paga o trabalho. Hoje no Lapeano tem mais. E riu.
Escovando a fatiota para mais uma sessão de músiaca e descontração.

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