A Revolução

Nos idos da Revolução Federalista a população da Lapa vivera momentos de terror frente as tropas dos revoltosos. A fome dos combatentes não poupara nem as vacas de leite das pacatas senhoras da "Vila". Além disso, notícias que chegavam descreviam as barabáries que eram praticadas naquelas paragens onde o grupo parava para pouso.

Mais de mil diziam. Cinco mil afirmavam os mais exaltados. A comunicação era difícil, normalmente trazida por viajantes e mascates em lombo de burro.
Os caboclos, por sua vez, traziam lendas misturadas com muitas crenças, reforçando a dúvida de como a tropa avançava e quais estratégias eram usadas.

Tropeiros evitavam os caminhos tradicionais. Sabiam ainda que o frio não tardaria a chegar, trazendo geada que queimava tudo. E a fome vem à comida.

Restava a opção do telégrafo e da maria fumaça, ainda que a cada quinze dias, quando não acontecia assaltos e avarias na composição. O povo se juntava á beira das dormentes a busca do despertar das notícias. O trem saía da capital "Curityba" pela manhã, dando tempo à cidade para acordar e sacudir a neblina que teimava em cobrí-la.

Piuiiii, fez a locomotiva. Olhos brilhavam ao sol, refletindo-o nos trilhos úmidos da névoa que se fora. O som ao longe fazia a multidão entar em transe, os cavalos relinchavam e ficavam tensos nos arriames das carroças e nos estábulos vizinhos. Ainda naquela semana, a notícia não era nada animadora. Boatos diziam da iminência da revolução voltar a Capital do Estado, e com ela a morte e a desgraça.

Nem bem o maquinista parou a máquina, o povo se aglomerou no carro do correio, ávidos pelas notícias mais recentes. Toda aburguesia da erva mate bem como tropeiros abastados lá estavam também, disputando espaço com professores, homens de negócios e a intelectualidade da Vila. Com a voz o corregedor da justiça clamou;
_ Pois bem, meu caro, dê-me cá o jornal. Tome dois tostões e passe para cá a Gazetta.
_ Sinto meu caro, mas a edição de hoje se esgotou ainda antes de nós partirmos.

Lamento mas notícias só quando retornarmos do Porto. Lá o telégrafo funciona bem e nào tardaremos. Com essas palavras o desânimo se estendeu por todos, desfazendo a aglomeraçào e suscitando mais dúvidas. O Corregedor ainda ofereceu soma elevada por um exemplar, vinte réis, mas não obteve êxito.
_ Eu tenha cá comigo um exemplar meu caro. Dê-me os vinte réis que eu lhe ofereço as notícias da Gazzeta.
Dizendo isso embolsou o dinheiro já com o trem em movimento, sorrindo feliz com o bom negócio que fizera.

Novamente o alvoroço recomeçou. A manchete dizia. "TROPAS FEDERALISTAS AVANÇAM ". Lendo em voz alta e pausadamente, o nobre cidadão lia palavra por palavra as notícias que davam conta do avanço da revolução sobre a capital e nas frentes dos Campos da Lapa e Ponta Grossa, estando os mesmos instalados
em Palmeira, a poucos dias dali. Foi o que bastou. Muitos correram para esconder animais em invernadas distantes da cidade, evintando assim acaptura dos mesmso pelos revolucionários famintos. Mães e pais de família tratavam de juntar trouxas e partir para ranchos ou até para a Capital.

Tamanho rebuliço ficou muitos anos depois, eternizado na memória da cidade com um lema que nada diz respeito averdadeira índole dos lapeanos verdadeiros. "Berço de Heróis mas cama de vagabundos", o que realmente não é nada lisongeiro, pois os acontecimentos da época eram caso de vida ou morte. Bem, voltando a história, dizem que tal burburinho transcorreu em três ou quatro dias, quando devagar a cidade foi coberta com um clima de tranqüilidade e serenidade.
Os dias já estavam por demais sonolentos quando, reunidos no bar de secos e molhados da Rua Voluntários da Pátria o nossos nobres professores, diretores de escolas, delegado, juiz , promotores e um indefinível cordel de figurões e desocupados mantinham acalorada discussão sobre como as tropas da República do Marechal Floriano iria conter os revoltosos eo que seria da cidade que há não muito tempo estivera sitiada. Na ferrovia nenhum sinal do trem nem comunicação de telégrafo.

De quando em quando passavam cidadãos lapenanos em vigília em busca de revoltosos.
_ Morte aos revolucionários, bradavam.
_ A Lapa não cairá mais uma vez, retrucavam os mais exaltados. E Assim os dias passavam.
Foi quando surgiu 'duvida na discussão sobre quem era quem na Política que o nosso ilustre promotor de justiça correu os olhos pelas folhas já ensebadas daquele último jornal comprado. Ao procurar linha alinha por notícias deixadas de lado por causa da Revolução eis que ele corou e empalideceu de forma violenta. O grupo que se calara até a solução da dúvida estarnhou.

Perguntado o que acontecera, eis que nosso leitor respondeu:
_ Meus Senhores, vocês não vão acreditar nas minhas palavras.
_ O que é homem, fale, desembucha. O que ocorreu ? Questionou o Prefeito da cidade impaciente por uma explicaç ão.
_ Senhores, o que acabo de ver me deixou atônito. Paguei caro e fui logrado.
_ Por quê? Conte-nos.
_ Pois vejam só. Paguei vinte réis pelo jornal e ainda achei barato. Agora vejo que o jornal é de 6 meses atrás e confesso o nosso logro. Tanta correria para nada. A Revolução há muito já passou e não volta mais.

O povo ficou estático. Olhos nos olhos e ninguém mais falou. Em pouco tempo os nossos heróis, ainda que por pouco tempo, foram para as suas casas. A cidade ganhou novamente a calma perdida. Porém , bem noitinha, já com chaleitra no fogo e envolta dum bom chimarrào eis que as risadas corriam solta. Afinal bem que uns dias assim fizeram o tédio da cidade ir embora.

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