Papel

O papel branco à sua frente. Você com aquela puta vontade de escrever, quem sabe aquele sonho de ser escritor, mesmo que seja nas horas vagas. Você pega e põe na máquina que estava lá, ociosa. Vem à sua mente lembranças de ginásio, as redações que fazia tão bem. A “tia”que corrigia e o fazia ler à frente de todos os seus colegas que urravam e zuniam no seu ouvido durante o recreio. Você, o espertalhão da sala, pelo menos na matéria de português e educação artística, pois na educação física era o “reserva oficial”.

Porquê não sentar ali na máquina e escrever pelo menos algumas linhas em que haja um pouco de juízo. Passado o momento de reflexão prepara a mesma, pensa num título apropriado para sua primeira “obra” e quicá o primeiro best seller. Mais nervoso do que no dia da redação do vestiba, que pelo menos vinha com um título e bastava escrever aquelas “abobrinhas” de ginásio.

Mas agora era diferente, quem dá nome aos bois é e será sempre você. Caso não escreva pelo menos o título pode se considerar um escritor derrotado e sem a mínima condição de aspirar a alguma coisa mais palpável, com excessão das nádegas das Marias da vida. Meia hora depois vem a tona o título primoroso, que nem o Garcia Marques poderia um dia sonhar.

Isto tudo porque se tratava de gíria que está na moda em sua cidade e até que é realizável, o duro seria discorrer sobre ela. Depois de gastar pelo menos 10 folhas de sulfite o título fica razoável, toda a estrutura da narração fica pronta e ao começar bater (pausa) ... Mas não era a toa que sua narrativa estava igual ao filme que tu assitiu na sessão coruja de ontem.

O papel branco a sua frente, aquela vontade louca de escrever , você já está com aquelas olheiras típicas de escritores “beat” que rondam nessas estantes. O que lhe falta? Só o papel branco à sua frente pode responder. O resto será contracapa.

Curytiba, 1986.

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