O pássaro

Eles voltavam da escola. No lusco fusco do dia, final de inverno e prenúncio da primavera, papai vê no gramado um pássaro. Ao vê-lo, encolhido no chão, foi fácil entender de que algo de errado havia ocorrido. Alertados pelo pai, as crianças logo chegam perto do animal que sai em derradeira debandada. Em vão, pois não vai longe. O primeiro sentimento foi salvá-lo. O segundo foi deixá-lo. Frente a consternação dos filhos papai dá meia volta e, entre idas e vindas do fujão de asa machucada, acolhe o pássaro ferido. Este dá um pio agudo e lasca bicadas no dedo do algoz , sem sucesso pois não conseguia seu intento de provocar dor. Papai olha, anda de lá para cá, até que, ao pensar em deixá-lo sobre um muro, vê um outro pássaro de plantão. Nota o pulsar frenético do coraçãozinho. Que o que está em suas mãos é um filhote. Drama. Racionalmente pensa em levar para casa, mas gaiolas são um martírio para pássaros, ainda mais feridos. Com pena, deixa o pequeno enfermo a sua própria sorte sobre um arbusto, mas em vão. O animal vai ao chão, corre novamente arrastando a asa ferida e pára entre o muro e a grama. O que fazer? Vira as costas tentando se convencer que fez o melhor. Conforta os pequenos. Gus fala até em achar madeirinhas para construir um ninho. Ruas e carros passam. A noite chega, e, quem sabe, a mãe o acolha e o aqueça em um último aconchego sobre suas asas, o que é difícil de acreditar. A morte chega para todos.

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